Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Aristóteles parte ll


Metafísica
Sob esse título estão reunidos 14 livros de Aristóteles que tratam do ser no sentido mais amplo ou mais radical. Duas questões se destacam na metafísica aristotélica: a da unidade do ser e a da existência de essências separadas.
Quanto à primeira, admite Aristóteles diferentes maneiras de ser, que ele denomina categorias, ressaltando dez: essência, qualidade, quantidade, relação, lugar, tempo, situação, o ter, ação e paixão. As categorias são os "gêneros supremos do ser", já que a este se referem diretamente, como suas determinações mais radicais. A ciência do ser tem um objeto real, aquele a que, direta ou indiretamente, se referem todos os "gêneros supremos": a essência. Aí se funda, para muitos, a teoria da analogia do ser, pela qual se conciliam a unidade e pluralidade deste. O ser unívoco existe, contudo, separado do mundo sensível: é pura essência, à qual não se pode atribuir nenhuma outra categoria além da própria essência.
A filosofia da natureza, um dos fundamentos da filosofia especulativa de Aristóteles, sustenta que a mudança nos seres não contraria o princípio de identidade, já que representa apenas a atualização da potência nelas contidas. A partir daí, o filósofo apóia sua física em duas teorias filosóficas: a da substância e do acidente, e a das quatro causas.
A substância é o que existe por si, o elemento estável das coisas, e o acidente, o que só noutro pode existir, como determinação secundária e cambiante. Graças à união entre os dois princípios, a substância se manifesta através dos acidentes: "o agir segue o ser". Por outro lado, dependem os seres de quatro causas: material, formal, eficiente e final, estando ligada, à primeira, a potencialidade de cada ser; à segunda, a especificidade; à terceira, a existência; e à quarta, a intenção.

Ética e Política

No diálogo perdido Da justiça já se anunciavam alguns dos temas expostos nos oito fragmentos reunidos por Andronico sob o título de Política. Escritos ao longo de toda a vida de Aristóteles, são tudo o que resta da sua obra sobre o assunto.
Aristóteles foi o primeiro filósofo a distinguir a ética da política, centrada a primeira na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto tal, e a segunda, nas vinculações deste com a comunidade. Dotado de lógos, "palavra", isto é, de comunicação, o homem é um animal político, inclinado a fazer parte de uma pólis, a "cidade" enquanto sociedade política. A cidade precede assim a família, e até o indivíduo, porque responde a um impulso natural. Dos círculos em que o homem se move, a família, a tribo, a pólis, só esta última constitui uma sociedade perfeita. Daí serem políticas, de certo modo, todas as relações humanas. A pólis é o fim (télos) e a causa final da associação humana. Uma forma especial de amizade, a concórdia, constitui seu alicerce.
Os regimes políticos caracterizam-se pela solução que oferecem às relações entre a parte e o todo na comunidade. Há três formas boas: monarquia, aristocracia e politéia (um compromisso entre a democracia e a oligarquia, mas que tende à primeira). À monarquia interessa basicamente a unidade da pólis; à aristocracia, seu aprimoramento; à democracia, a liberdade. O regime perfeito integrará as vantagens dessas três formas, rejeitando as deformações de cada uma: tirania, oligarquia e demagogia. A relação unidade-pluralidade aparece, ainda, sob outro aspecto: o da lei e da concórdia como processos complementares.

Poética

Entre as ciências do fazer, apenas a obra de arte mereceu estudo sistemático de Aristóteles. Ele distingue as artes úteis das artes de imitação, sendo que estas últimas, ao contrário do que o nome parece indicar, exprimem o dinamismo criador do homem completando a obra da natureza: ele tem de captar através da idéia o que na natureza se encontra, por assim dizer, apenas esboçado ou latente.
Na Poética, Aristóteles confere grande relevo a sua teoria da tragédia, que exerceu notável influência sobre o teatro desde a época do Renascimento. Segundo sua própria concepção de poesia, salientou a importância da imitação ou mímesis, não como mero decalque da realidade, mas como uma recriação da vida: a tragédia imita "não os homens, mas uma ação e a vida". Também a ação, para ele, é fundamental: os caracteres devem surgir como sua decorrência, recomendando o filósofo o recurso à ação histórica, tomada de empréstimo para a obra de arte. Preocupado ainda com o efeito da tragédia sobre o espectador, enuncia seu conceito de cathársis (purificação das paixões), objetivo que, para Aristóteles, é indispensável.
Física e ciências naturais. Basicamente o conteúdo da Física de Aristóteles é a realidade sensível, na qual a idéia é inteiramente envolvida pela matéria. O físico deve possuir um acurado espírito de observação. A realidade natural, em seus aspectos mais gerais, é autônoma, contrapondo-se à espontaneidade acidental que exprime os efeitos inesperados que as coisas produzem em nós. A natureza é uma autocriação, e o ser potencial que nela atua é o movimento, o qual se apresenta, sob o aspecto quantitativo, como aumento e diminuição e, sob o aspecto espacial, como locomoção e translação.
Dos temas tratados na física aristotélica, o mais paradoxal é a dinâmica. O conceito básico da dinâmica de Aristóteles é de que um corpo inanimado não pode permanecer em movimento sem a ação constante de uma força. Partindo de sua teoria do movimento, o filósofo estabelece os dois princípios básicos que se encontram no mesmo ser, a ação e a potência, os quais constituem o fundamento da sua dinâmica. Em contraposição, a matéria e a forma são os princípios básicos da estática.
O mundo animal é analisado com amplitude e considerado por Aristóteles como um espaço intermediário entre a física e a psicologia. Os seres orgânicos apresentam aspectos diversos, mas todos são constituídos de matéria (o corpo) e de forma (o princípio do movimento). Os animais são mais perfeitos do que as plantas e de constituição mais complexa.
A anatomia aristotélica ressalta a importância da distribuição da matéria nas funções orgânicas. O correlacionamento entre os estados psíquicos e os processos fisiológicos só se verifica nos seres mais desenvolvidos. Os animais superiores são dotados de matéria, forma, movimento, sensibilidade e potencialidade receptiva. Enquanto as plantas possuem apenas propriedades nutritivas, os animais são também dotados de propriedades sensitivas e motoras. O homem ocupa o vértice da pirâmide, aliando a todas essas propriedades uma potencialidade receptiva em grau elevado.
Com a morte de Alexandre (323), Aristóteles teve de fugir à perseguição dos democratas atenienses, refugiando-se em Cálcide, na Eubéia, onde morreu em 322 a.C

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